Resenha — Conversas que não tive com minha mãe, de Felipe Brandão

 “Conversas que não tive com minha mãe” não é um livro sobre melancolia. É um livro sobre amor — aquele que resiste ao tempo, à ausência e à falta de palavras ditas.


Em sua estreia como autor, Felipe Brandão — reconhecido editor por trás de dezenas de livros — abre um espaço íntimo e comovente: o baú de lembranças da relação com sua mãe, dona Áurea, que ele perdeu aos 4 anos de idade. Quarenta anos depois, ele decide escrever as conversas que não aconteceram, os abraços que faltaram, os medos e as esperanças que nasceram da ausência.


A proposta poderia facilmente resvalar para um tom excessivamente triste, mas o autor surpreende. Sua escrita é marcada por uma delicada leveza emocional. Mesmo quando a tristeza aparece, ela o faz com a sutileza de um raio de sol no rosto, um abraço de mãe que permanece, invisível e eterno.


Página a página, nos tornamos cúmplices de Felipe: rimos, choramos e, sobretudo, aprendemos a amar dona Áurea, que vai ganhando contorno e presença através das memórias compartilhadas. É um livro que toca quem já experimentou a saudade de um ente querido, mas também quem busca histórias autênticas de amor.


Em um cenário literário muitas vezes saturado por romances e amores idealizados, Conversas que não tive com minha mãe oferece um respiro. Fala de um amor essencial: o de um filho por sua mãe — incondicional, fraturado pela perda precoce, mas reconstruído com palavras.


O livro não se encaixa facilmente em um gênero: não é um romance, nem um diário, nem um livro de autoajuda. É uma narrativa para leitores que valorizam a boa escrita, as histórias sinceras e o desejo de, mesmo em tempos de relações aceleradas, sentar-se com uma xícara de café ou uma taça de vinho para ler sobre afetos reais.


Ao final da leitura, temos a impressão de que essas conversas não foram apenas entre Felipe e sua mãe — foram também com cada leitor, tocando nossas próprias histórias de amor, perda e memória.


Recomendo vivamente. É um livro que não apenas se lê — ele se sente.



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